“Anteriormente existiram oito mundos. Cada mundo durou por milênios. Cada um serviu como hospedeiro de civilizações que alcançaram a supremacia, mas eventualmente morreram, se dispersaram, desapareceram ou transcenderam.

Durante a época em que cada mundo floresceu, aqueles que os governavam falavam com as estrelas, reformularam seus corpos, dominaram forma e essência um de maneira única.

Cada um deixou restos para trás.

Os habitantes do nono mundo — O Nono Mundo — às vezes chamam estes restos de magia; e quem disse que eles estão errados? Entretanto, a maioria dá um nome único a este legado de passados quase inimagináveis.

Eles o chamam de… Numenera.”


Bem vindos ao Nono Mundo

Numenera é um jogo sobre descobertas e maravilhamento, sobre escavar segredos do passado para construir um futuro melhor, sobre criaturas e ferramentas tão antigas quanto se pode imaginar, mas tão tecnológicas que parecem mágicas.

Um bilhão de anos no futuro, a Terra já abrigou pelo menos oito civilizações, cada uma com suas características, tecnologias, avanços e costumes próprios. E todas elas já se perderam no tempo, deixando seus segredos como legado para os habitantes do Nono Mundo, que hoje vivem num estágio tecnológico que poderia lembrar o fim da nossa Idade Média.

Os continentes como conhecemos não existem mais. Algum povo dos mundos anteriores possuía a capacidade de remodelar as massas de terra e, de alguma forma, interromperam ou orientaram a deriva continental para se se formasse a vastidão que hoje ainda é inexplorada. A Lua está mais distante do planeta, parecendo menor no céu. Algumas pessoas se perguntam o que seria a faixa verde que corta o seu equador e desaparece regularmente. Os dias tem a duração de 28 horas (um sonho, não?). A Ventania de Ferro – uma tempestade de nanomáquinas descontroladas – transforma a paisagem por onde passa. O Papa Âmbar e a Ordem da Verdade trabalham para manter a relativa paz no Baluarte, enquanto enviam cruzadas contra a ignorância, emissários e pesquisadores para descobrir e documentar o que há no Além.

Numenera: o Jogo

Criado por Monte Cook, Numenera é um cenário com um sistema de regras próprio, o Cypher System, que depois ganhou um livro de regras genéricas próprio, e deu origem a outros jogos como The Strange, Gods of the Fall e Predation, entre outros. Para quem não conhece, Monte Cook é um designer veterano da indústria do RPG nos EUA, foi co-autor da 3ª edição de D&D, bem em como inúmeros outros títulos amados pelo público, como Planescape, Ptolus e até sua própria versão de World of Darkness.

Lançado em 2013 por financiamento coletivo, Numenera foi o projeto de RPG na plataforma Kickstarter que, até então, havia levantado mais recursos: a proposta inicial de apenas criar um livro básico resultou numa campanha de US$ 517.255,00, que conseguiu pagar o dobro do valor inicial pedido em menos de 24 horas.

Seguindo a proposta de ser um jogo sobre descobertas: os jogadores não recebem pontos de experiência por participar de combates (a menos que descubram algo novo!), o que liberta o grupo do padrão seguido por vários dos jogos de RPG mais tradicionais. O mestre do jogo é incentivado a acrescentar elementos estranhos o tempo todo, para os quais explicações não são sequer necessárias. Muitos dos segredos do mundo não podem ser completamente compreendidos, e os jogadores que entenderem isso logo, vão ficar menos angustiados. Tratando-se de um RPG sobre descobertas, muitas informações do cenário são deixadas vagas justamente para que cada mesa de jogo estabeleça sua própria versão do Nono Mundo.

Numenera Discovery

Categorizado como “Fantasia Científica” (Science Fantasy), Numenera angariou diversos prêmios da indústria, entre eles o de melhor cenário, produto do ano, melhor escrita (ENnies 2014) e o de melhor novo RPG (Origins Award 2014).

Em 2018, o jogo ganhou uma edição revisada, mas que continua completamente compatível com o material original. Chamada de Discovery & Destiny, ou coloquialmente de Numenera 2, a nova versão tem dois livros básicos: o primeiro, Discovery, é exatamente o livro de regras original, com algumas alterações de texto, melhorias em alguns pontos e adições de habilidades e características. O segundo, Destiny, expande o conceito inicial do jogo, que era de “descobrir civilizações passadas”, para “como construir nosso futuro”, e traz novos tipos de personagem, regras para criação de tecnologia e, principalmente, estabelecimento de comunidades e jogos de longo prazo.

Falando como leigo: a primeira vez que vi a premissa do cenário, com todos esses mistérios, um continente sem nome e um mapa praticamente vazio, eu torci o nariz. Pareceu-me uma criação preguiçosa, jogar um monte de ideias e deixar o mestre se virar para explicar. Jogando a primeira aventura no sistema e no cenário com o Bruno mestrando, porém, pude experimentar a sensação de construir significados para aquele mundo tão diferente e esquisito junto com os outros jogadores do grupo, e passar por situações que são dificilmente encontradas em outros jogos. Foi quando adquiri gosto pelo Nono Mundo.

Jogando Numenera

O sistema Cypher funciona baseado em uma escala de dificuldade que varia de 1 a 10. A dificuldade, multiplicada por três, indica o valor que deve ser obtido na rolagem de 1d20. Então um teste com dificuldade 5 pode ser superado quando se obtém um resultado 15 ou mais no dado. Os personagens tem recursos que podem ser utilizados para diminuir a dificuldade dos testes, e certas circunstâncias podem fazer com que ela aumente.

Nesse sistema, o narrador não joga dados. Todas as rolagens são feitas pelos jogadores, baseados nas dificuldades das tarefas, ou das criaturas, enfrentadas.

Criando personagens

Os personagens são criados em três passos: a escolha do Tipo, do Descritor e do Foco. Cada personagem pode ser descrito pela frase “Eu sou um [Tipo] [Descritor] que [Foco]. O meu personagem no jogo atual, Cid, é um Nano Inteligente que Doma o Relâmpago.

Os tipos são:

  • Glaive – o combatente especializado
  • Jack – o trapaceiro, cheio de habilidades versáteis
  • Nano – algo similar a um mago tecnológico

Cada tipo define alguns valores iniciais para as Reservas de Habilidades, que são Potência, Velocidade e Intelecto. Essas reservas são gastas à medida que os personagens usam Esforço para reduzir dificuldades de testes, e recuperadas com descanso, itens ou poderes.

Os descritores são muitos, e normalmente definem aptidões e inaptidões do personagem, bem como algumas formas com as quais ele se relaciona com o mundo e as outras pessoas.

Glaive, Jack e Nano

Os Focos também são diversos, e definem as principais habilidades e diferenciais do personagem, muitas vezes mostrando como os humanos do Nono Mundo são diferentes de nós – influenciados pela numenera, com poderes, mutações e habilidades consideradas sobrenaturais. Também trazem sugestões de vínculos com outros personagens do grupo, o que cria uma dinâmica muito interessante na mesa de jogo e ajuda na hora de definir a história prévia de cada um. Voltando a falar do Cid, como exemplo, seu foco sugere que eu escolha outro integrante do grupo para que tenha sido o responsável por ajudá-lo a controlar seus poderes e, com isso, possa se beneficiar de algumas características deles que não afetariam mais nenhuma outra pessoa.

Cifras e Artefatos

As estrelas do jogo, e os elementos que dão nome ao sistema Cypher, as cifras são como itens mágicos e/ou habilidades de uso único. Reminiscências dos mundos anteriores, são tecnologias bizarras com funcionamento pouco conhecido, e estão disponíveis em grande quantidade durante as aventuras. Existem cifras que podem ser utilizadas em combate, outras que aprimoram características de um personagem, e algumas que podem “prejudicar” o planejamento do mestre, “quebrando” o jogo. Coloco aspas porque é exatamente essa a função das cifras. Trazer algo da aleatoriedade e do caos que deve ser viver rodeado de equipamentos tecnológicos desconhecidos e imprevisíveis.

Já os artefatos são peças de tecnologia mais duráveis e confiáveis, que demoram mais a ter seu funcionamento esgotado. Fazendo um paralelo meio porco com D&D, as cifras seriam como pergaminhos e poções de uso permitido por todas as classes, e os artefatos se assemelhariam a itens mágicos com cargas de uso.

Torment – Tides of Numenera, lançado para PC, PS4 e XBox One em 2017.

Concluindo

Falei bem pouco do sistema e do cenário, porque é mais fácil compreender a ambos tendo a experiência de jogo. Numenera parece ser um jogo mais fácil de explicar para iniciantes, que não fazem comparações automáticas a outros sistemas e não ficam buscando paralelos.

Jogue de mente aberta e se permita mergulhar nos mistérios de uma terra inexplorada, repleta de segredos e coisas estranhas, onde uma peça metálica brilhante pode ser a diferença entre o fracasso e o sucesso.

O cenário e o sistema foram feitos um para o outro, e funcionam em harmonia completa. A estranheza do mundo é reforçada pela profusão de cifras e sua distribuição inicial aleatória, pelos poderes únicos e interessantes que cada personagem possui, pela progressão de “nível” baseada em descobertas e pelo avanço linear de conhecimento dos jogadores sobre o mundo.

Onde Adquirir?

O livro da primeira edição foi traduzido e publicado no Brasil pela editora New Order, e alguns de seus suplementos também, via financiamento coletivo.

Já a edição revisada, em formato digital, está em oferta no Humble Bundle até o dia 06/02/2019. Você pode adquirir 28 livros, suplementos e aventuras prontas por U$15,00, aproximadamente R$60,00. Se você lê inglês e ficou interessado pelo cenário, não perca a oportunidade!

A versão física dos livros básicos da edição revisada também estão disponíveis na Amazon Brasil, e você pode encontrá-los neste link.